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Naufrágio da Alma

Este é conto poema que retrata a vida de uma marujo, embebido pelo sentimento de busca pelo sentido da vida e encontrada propósito em uma das suas aventuras em alto-mar. A narrativa é ambientada no contexto das grandes navegações do séc. XVI e os desafios em desbravar as águas desconhecidas e seus terrores.

Se apropriando, principalmente, de aspectos estilísticos da segunda fase do romantismo europeu que data o séc. XXI.

O porto mais próximo

Acho que desde aquele dia nunca senti algo tão forte e arrebatador.

Lembro de cada palavra doce e de cuidado na véspera da minha partida. Cada afago trocado e a iminência de um amor que crescia aqui dentro do meu peito e da dor de abandonar todas as minhas certezas, expor as minhas feridas. Revelar os meus maiores medos... o mar me esperava!

Depois de um inverno intenso, o prenúncio de um solstício... O barco zarpa do porto para as águas desconhecidas!

O desague

Quando as barreiras emocionais se rompem, a avalanche de sentimentos afunda até o mais habilidoso dos navegantes em suas grandes embarcações... A força da correnteza do vento assusta, mas as velas ainda conduzem muito bem seu capitão e seus marujos.

O que é esse sentimento? O grande e temido kraken dos manuscritos dos navegadores piratas seculares?

Não, é o amor, a maior das lendas...

Marujo ao mar!

Vislumbres... é tudo que se tem quando já não há terra firma à vista depois de tanto tempo navegando para o nada.

Será ilusão ou o horizonte trará a conquista do selvagem, do incontrolável, mas que almejo desbravar?

Visão do deífico, intocado e de beleza inebria... de onde vem esse ímpeto?

Atiro-me ao mar e que os deuses me concedam a força necessária para me entregar a esse delírio.

O que se esconde atrás da linha do horizonte?

Ao longe, avisto uma formosa ilha que promete a minha ancoragem... é o lugar mais seguro? Eu só preciso alcançar!

“Oh, terra que o alimento dá, traz pra mim o tesouro mais rico da sua beleza cândida e rica!”

Só me resta nadar, nadar e nadar? “Para onde estou indo?”

Os deuses me abandonaram

Eu não tenho mais forças... meus braços falham, as minhas pernas falham, o meu coração está falhando...

As ondas são mais fortes e as águas cada vez mais obscuras, sombrias... a ilha se afasta, o meu porto está cada vez mais longe. Onde irei me segurar agora?

“Eu estou te perdendo! Deuses não me abandonem!”

A tempestade

De onde vem tanta violência, oh, Zeus?

Onde está o sol? Agora nada tem cor... apenas uma pálida vastidão, sem vida, o caos tempestuoso!

Traz de volta a luz, Apolo, eu sei que você me ouve!

Me leva de volta para o mundo dos sonhos onde o vazio não me aflige e angústia é esquecida pela ilusão de um final feliz.

Dias quentes, meu amor e um bom rum nesse cântico que carrego na cintura...

Uma vida por outra

O contrato foi feito!

É deixar ir para ser feliz, mesmo que a minha morte seja irremediável...

Eu sinto frio, aqui é silencioso, o meu corpo desfalece e o sol resplandece com sua majestosidade.

Os raios tocam a minha pele, mas é tarde demais... a ilha ganha vida, a luz retorna e o marujo afunda abraçando o seu propósito...

“Finalmente ancorei!” – Ele sente o beijo doce das lembranças de quem um dia já foi que mitigam seu fenecimento para a eternidade.

“Aonde irei, agora? Para o silêncio!”

FIM

Assinado: Alguém que um dia já foi.